🌚

BELONA | Boardgame

Branding + Roteiro + Game Design + Embalagem + Produção

Belona é um jogo abstrato de estratégia para 2 jogadores. Aqui, você irá experienciar a rivalidade entre facções na busca da dominação da cidade de Belona. Com uma mecânica simples, você poderá controlar uma facção e ir às ruas com grupos sob seu comando, buscando dominar áreas para conquistar habilidades, resolver contratos garantindo pontos de vitória, ganhar respeito e influência, aumentar seus recursos e mostrar para as facções rivais que você veio para ficar!

O jogo é composto por 10 cartas (63x88mm) e 14 cartas (41x63mm) - todas impressas em glossy dupla face 240g com laminação linho 18 micras -, 10 cubos coloridos de plástico e 6 dados coloridos de 6 faces e 7 dados brancos de 6 faces.

A embalagem é composta por uma lata de alumínio da cor preto brilho e uma luva com impressa em couchê 240g liso com laminação fosca 12 micras.

Washington Albuquerque: Game Design, Identidade Visual, Direção de Arte, Community Management, Redação e Roteiro, Sound Design
Claudya Spindola: Game Design e Produção
Larissa Fonseca: Revisão


O jogo foi criado como um complemento para antologia ACID+NEON, organizada e publicada pela Editora Coverge. A antologia reunia narrativas multimidiáticas inspiradas no tema "Cyberpunk" e distopias futuristas. Por se tratar de um projeto guiado pela literatura, o jogo foi pensado para que, além de ter um baixo custo de produção, também fosse viável sua distribuição no formato print and play (imprimir e jogar).

O conceito principal em Belona, foi a criação de uma atmosfera hostil, refletida pelo preto calçado e a rivalidade entre as gangues, e também as cores branco, amarelo e vermelho, como reflexo principal da estética mais marcante do Cyberpunk, o Neon. Durante o desenvolvimento do jogo, foram realizadas diversas playtests com participantes da antologia e também entusiastas de boardgames que faziam parte da comunidade criada para o lançamento da antologia, resultando em dados importantes para a criação da gameplay e definição dos aspectos estéticos e materiais.

Belona é uma cidade distópica e caótica. Para a introdução ao jogo, foi criado uma pequena dramatização narrada por um personagem anônimo e seu ponto de vista ao caminhar pela cidade. Você pode ouvir abaixo ou também no seu Soundcloud!


A primeira gota atingiu meu rosto, como se me puxasse de um mergulho na solidão obscura dos confins da mente. Um convite irrecusável e amargo para voltar à realidade pálida e fria. As seguintes batem contra o chão e todas as superfícies que encontra pelo caminho, impactos furiosos como uma sutil vingança da natureza plástica que despenca do céu falso. As poças se formam rapidamente sobre ruas e calçadas, frequentemente destruídas por passos frenéticos e desintimados como uma geleira atingindo no mar. Os sons se misturam, quase homogêneos. Anúncios de próteses eficientes OctaCorp já testadas até mesmo em militares agora estão disponíveis para civis aprimorarem seus sentidos falhos e pobres, mas não pobres como aqueles desgraçados que matariam por uma delas, enquanto os mais afortunados compram de bel prazer para destruí-las em atos cruéis contra corpos inconscientes alugados para sofrer as dores da carne. Ainda risadas robóticas, mas também doces e inocentes, não como de crianças, mas de ciborgues em cabines nauseantes de prazeres e travessuras que poluem a paisagem devastadora. Acima disso tudo, gritos de ambulantes loucos, de frenesí de jovens inconsequentes e sem identidade, um contraste hediondo e crescente do brilho de placas de titânio ao encardido de trapos de seres fodidos e esquecidos nos cantos da sociedade.
Vejo risos deturpados, gestos agressivos, por vezes tijolos e, então, metais, euforia, dúvida, medo, vergonha, fúria, ecossistemas dentro de ecossistemas e tantos bits para ser similar que nada fica de fato na memória, tudo tão passageiro quanto a chuva ou o tempo. O jornal tem a data de semanas atrás e pisca em constante um painel luminoso que aos poucos eu deixo para trás, mas não antes de flagrar um parágrafo sobre os Desventurados, malditos sortudos, que não morreram com a guerra, mas se nutrem do que restou dela. Ataques de grupo rebelde, a estações do governo, a retaliação corporativa em vermelho escarlate, o melhor do sensacionalismo da Vetran e outros magnatas com punhos de ferro. Ainda entre um e outro luminoso dos tantos que se espalham vertiginosamente a glitchs criptografados por hackers libertadores, heroicos fractais de uma luta tão lúcida quanto a viagem de LSD ou qualquer outra porcaria sintética. Não consigo lhes tirar a razão, ao menos lutam por algo real, ou não, que diferença faz. O medo e a coragem, o certo e o errado, uma balança injusta, uma linha tênue entre a realidade e a sensatez. Como viajante do tempo, vítima da evolução humana, um sobrevivente, a uma época em que a Beta Etra não dava privilégio e destruíamos tudo que havia sido criado por medo de uma rebelião, tempos em que tudo parecia ser do controle e hoje é tão simples e trivial pois somos alimentados com toneladas de superficialidade, afogados em desejos infindáveis e insaciáveis que mal sabemos pôr em palavras ou pixels ou bits ou qualquer merda.
Sinto o peso do metal puxar minha mão para o chão enquanto a gravidade, não mais natural do que o medo, já não parece se esforçar tanto, talvez eu me torne notícia ou apenas outro grito abafado pela chuva, seja como for. Meu último suspiro revela muito como se a boca do cano apontada para meu cérebro fosse um catalisador da percepção, qualquer percepção, e então o gatilho se mostra macio e meus olhos correm uma última vez, há policiais em toda a esquina, religiosos fanáticos, protestantes e agitadores, corpos de aluguel, corpos de lugar nenhum, a quem acredite que ninguém lhes nota e aqueles que querem chamar a atenção, estão atrás dos balcões, sentados nas cadeiras, a calçada, com pratos cheios ou não, transeuntes apressados ou sem rumo, máquinas que limpam, molham, movimentam, que conectam a matriz oferecendo a fuga tardia das angústias da carne, mas nem tudo é carne, nem tudo é sangue, é fluido adaptativo, malhas sintéticas e neon um ácido, bem vindo maldita Belona.