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Março, 2022

não durmo #8 💬 - bem e o mal e o cinza 🦹 - o falso heroísmo de I am Legend a The Last of Us

naodurmocast | 13 min de leitura 📖

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Deixa eu te falar que há uma linha tênue entre o bem e o mal, o herói de alguns já foi o demônio de outros, tal como a mais temida figura para alguns já repercutiu como a salvação de outros. Maldito ponto de vista, mas não existe apenas o preto e branco, também há o cinza.

Quando Robert Neville trilhou sua desventura em um mundo pós-apocalíptico na busca da cura para o vampirismo apresentado em Eu Sou A Lenda, o autor Richard Matheson fez mais do que oferecer ao mundo uma obra prima do terror, ele explorou as multi facetas de um ser humano em decadência, e não se trata apenas da decadência da humanidade como um todo, mas da humanidade singular, estamos falando aqui da opressão da vida e a necessidade sobre tudo o que constrói nosso caráter e ética. Quando pensamos em punição, logo imaginamos ataques físicos, torturas, confinamento… bom, cadeia é o exemplo perfeito aqui, pois a dor física é suportável, mas nós não somos feitos para viver sozinhos, a privação da interação social e da percepção do tempo é como atravessar um campo de espinheiros, mas sem sangrar, sem perecer, apenas a dor. 

Não quero dramatizar, mas a solidão é algo importante aqui, pois é a solidão que constrói a narrativa de Neville, mais do que isso, em um ponto de vista, ela constrói Neville, e a importância disso é o impacto das suas ações… não, ele não é um herói, e não, ele não é um vilão, seus atos puros ou não em busca de algo para salvar sua espécie, sob um ponto de vista, é heróico. Suas ações repugnantes e violentas em busca da sua obsessão, é infame.

“De repente, ele sabia que não queria que ela fosse para a cama. Queria que ela ficasse com ele. Não sabia o porquê, mas ele não queria ficar sozinho…” ― Eu Sou A Lenda de Richard Matheson

Há uma ambiguidade quando pensamos em bem ou mal, darkside ou lightside, a história nos mostra isso, não é preciso de ficção. A construção da heroína é subjetiva para quem a contempla, pois nada é singular em seu efeito e por melhor que seja a sua intenção, a vilania pode também ser o seu fardo.

Ellie saiu desacordada nos braços de Joel depois de uma chacina de Vagalumes. Ele acredita que sua decisão é para o melhor, mas o melhor é sua própria concepção. Não se trata de simples escolhas, mas de toda uma construção histórica de infinitas escolhas, e acreditar é o fator determinante quando temos opções. The Last Of Us não é só um jogo impressionante em aspectos técnicos, como despertou novamente na molecada a sede pelo conteúdo cinematográfico e narrativo dentro dos jogos eletrônicos. Depois de uma jornada sangrenta contra corredores, estaladores e Deus nos acuda, Joel finalmente chega ao seu destino com Ellie, para que ela possa curar a humanidade, mas o preço é sua vida. 

Como um pai adotivo e protetor, a possibilidade da morte de Ellie é algo abominável, ela deve viver, independentemente se isso representar a ruína de toda a civilização. Ele acredita. E se Ellie realmente salvaria a humanidade também é algo interessante de investigar, pois há muitos apontamentos de que sua morte seria a toa, mas vamos falar disso em um outro episódio? Okay!

O confronto entre bem e mal é o clássico desastroso da vida, pois cada decisão é tomada a partir de uma vida toda de experiências, e não escolhidas ao acaso ou aleatoriamente, tudo nos influencia e o tempo todo, somos condicionados a acreditar que o heroísmo é matar o vilão, quando ao mesmo tempo a morte é uma condenação a danação eterna ou simplesmente errado por ir além da sua liberdade e interferir na do próximo. Uma forma curiosa de perceber isso também é simplesmente prestar a atenção em quantos “vilões” ou antagonistas de livros e filmes ou jogos, que são simplesmente amados. Parece que a concepção de um herói é algo tão tênue que basta uma outra perspectiva para destruir toda a incrível jornada que o mesmo enfrentou para ter seu título. Pensa comigo, e se o primeiro jogo não apresentasse Joel e seu trauma, mas a dor de Abby e sua jornada…

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Nº8 • T02 • MAR/22


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