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Junho, 2021

não durmo #7 💬 - superando insetos gigantes 🐌 – a jornada do herói ordinário e a superação.

naodurmocast | 16 min de leitura 📖

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Deixa eu te falar que há muitos momentos em nossa vida que parecem um tipo de looping, não quero dizer looping como um ciclo infinito aterrorizante ou um cinematográfico bizarro, mas em um sentido geral de repetição. Há quem diga que a história se repete, tal como Hegel, e mesmo de maneira irônica esse pensamento absurdo está longe de ser apenas um devaneio filosófico. Quando criança, cometemos alguns erros inocentes, até que aprendemos o certo e o errado, assim mesmo tomamos decisões idiotas. Quando adultos, sabemos exatamente para onde os caminhos irão nos levar, (aqui, o destino é o que interessa) ainda assim, muitas vezes, escolhemos a merda do caminho errado. Mas há um denominador comum nesses momentos, a anciã, a voz mais velha, que já cometeu todos os nossos erros e vem desde nossos primeiros passos dizendo que seguir outro caminho nos impedirá de sofrer. E seguimos? Não.

Transmita o que aprendeu. Força, mestria. Mas fraqueza, insensatez, fracasso também. Sim, fracasso acima de tudo. O maior professor, o fracasso é. — Mestre Yoda em Star Wars

Vamos observar mais longe, para trás, no passado. Na Antiguidade, os imperadores tratavam escravos como algo descartável, para ser sacrificado ao bel prazer, depois governantes puniram os escravos pela existência, eles que desprovidos de qualquer humanidade, eram subjugados, marginalizados, abusados e tratados como escória, a resposta negativa para qualquer questão. Quando as revoltas começaram a surgir libertando povos por terras que jamais sonhavam que isso poderia acontecer, a história mudou, e então vieram outros sistemas, como o feudalismo, onde os ricos e poderosos faziam seus caprichos sobre servos, que também sofriam. Então a burguesia ascendeu e trouxe consigo o capitalismo, o ciclo de oportunidades perfeitas - para quem já fosse branco e rico -, e então os ricos e poderosos faziam seus caprichos, sobre os proletários, a classe trabalhadora. Tem algo errado aí, não é? O looping.

Longe de querer discutir política, sociologia ou o que for, a ideia é pensar na forma como tudo se repete, assim como Fibonacci está no seu dedão ou no pedaço de brita enterrado sob seus pés. Parece elementar. Voltando a visão micro, o nosso looping se trata de uma jornada, o tipo que já foi desenhada e serve de modelo para muitas coisas que amamos, como literatura, cinema, teatro e as artes plásticas, a jornada do herói. No nosso caso, a jornada do cidadão ordinário. Pois independente do quanto nos esforcemos, nós vivemos a jornada que Campbell descreveu, sim, diariamente. Sejamos francos, sair do ensino médio, entrar na faculdade e conseguir um emprego, não é claramente o Mundo Comum, a Aventura, o Mentor, os Testes, a Provação e a Conquista? Sim, tem mais entre e depois disso, mas não importa agora. O fato é que esse ciclo se aplica tal como a história se repete, e por mais bizarro que seja, é como uma roda gigante que de ano em ano muda de cores.

Eu descobri que são as coisas pequenas, os feitos diários das pessoas comuns, os simples atos de bondade e amor, que mantêm o mal afastado. — Gandalf em O Hobbit.

Mas essa reflexão não é para trazer desespero, e sim para entendermos que assim como a vida é um ciclo, nossa evolução depende disso. Os livros não nos dão o conhecimento, mas são uma ferramenta para explorarmos o nosso potencial e capacidade, tal como a vida é para isso, para ser explorada e experimentada, enquanto a voz anciã… Certo, ela é o livro, mas está sempre torcendo para que atinjamos a superação.

É muito comum falar em Tolkien e sobre a aventura de Bilbo Bolseiro, quando pensamos nesse ciclo, mas mais interessante do que imaginar como seria uma Terra inteiramente nova como palco dessa aventura, é repensar como seria a nossa Terra de maneira fantasiosa. Nós fazemos isso, quer dizer, a arte faz isso constantemente, seja destruindo tudo com um meteoro ou ameaçando a vida humana com zumbis, mas confesso que a premissa de insetos gigantes, driblando a bizarrice de Vermes Malditos ou Malditas Aranhas, é algo bem legal.

Agatha 616, é um asteróide, veio direto pra Terra. Pois é, né, super óbvio. Então a humanidade se uniu pra fazer o que faz de melhor. Lançou um monte de foguetes nele e aí explodiu, foi irado! Só que não, sabe o que tem em um foguete? Compostos químicos, muitos deles. Esses compostos choveram na gente e aí tudo mudou, e quando digo tudo, tô querendo dizer criaturas de sangue frio, e mudou porque elas mutaram e começaram a comer todo mundo.” — Joel em Amor e Monstros

Em Amor & Monstros, Joel é um personagem que tem tudo para dar errado, como nós enquanto estamos crescendo. A Terra está dominada por insetos gigantes que sofreram mutação por uma cagada humana ao tentar proteger o planeta de um meteoro. Já deu pra sacar? Mas a jornada de Joel aqui é tão real quando a minha ou a sua, pois não nascemos destinados a algo grandioso ou sequer temos um mentor batendo à nossa porta ambicionando grandes aventuras, não, as coisas apenas acontecem e temos medo do que não conseguimos fazer, do que vamos fazer e do que estamos fazendo, isso é normal.

A jornada de Joel a princípio é por paixão, uma travessia de quilômetros a pé arriscando a própria vida exposto à formigas comedoras de cérebros, sapos gigantes e lesmas fofas, pois é. Mas o que torna isso extraordinário é perceber a evolução do personagem, que mesmo entrando no clichê do monomito, ele não termina como um herói, mas como alguém ordinário. Ele tem medo de estar sozinho, tem medo de ser picado, mordido, estraçalhado, mas não desiste e quando tudo parece ser o fim, chega a oportunidade da sua provação, e a anciã aqui é o seu próprio subconsciente, a luta pela sobrevivência.

Esse é o ciclo que seguimos diariamente, aprendendo a superar os desafios que, mesmo velhos, parecem novos.

Quando pensamos em superação, imaginamos conquistas incríveis, aventuras fantásticas, mas muitas vezes se trata do simples, de acordar todo os dias e conseguir se encarar no espelho com otimismo, de compreender o seu lugar e suas responsabilidades com o mundo e não perder a cabeça ou o respeito por motivos que poderiam ser facilmente ignorados ou pedir ajuda para compreendê-los e sim, superá-los. Talvez apenas vencer o medo, não o tipo de medo que se tem de uma centopéia gigante, como Joel, mas das pequenas coisas que nos seguram. O looping existe e é irremediável, mas existe também a consciência de que podemos ser o melhor de nós e preservar isso para compartilhar de maneira prática e harmoniosa.

Talvez o que Joel viveu e a ideia de Hegel estejam interligados pela simplicidade da vida, podemos não concordar inteiramente com Hegel, mas é possível que esse looping ainda não tenha se repetido, e assim como nós, o mundo está evoluindo, precisamos apenas ouvir a voz anciã no nosso interior e continuar caminhando em direção a superação, juntos.


Por fim, segue alguns links interessantes 🔗

Como criar um filme de monstros — www.youtube.com/watch?v=bBPAZUxFtUw
Jornada do herói — www.youtube.com/watch?v=Hhk4N9A0oCA
Plano crítico e Omelete com reviews sobre o filme — bit.ly/3uI9Okxm - bit.ly/3fKgQRH
Proporção áurea na vida — vimeo.com/9953368

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Nº7 • ANO 1 • JUN/21


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