Agosto, 2020

deixa eu te falar que #2 💬 | neon e déjà vu 🕶️ - vaporwave e a nostalgia que nunca vivemos


deixa eu te falar que | 11 min de leitura 📖

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#detfq · detfq #2 - neon e deja vu - vaporwave e a nostalgia do que nunca vivemos

Deixa eu te falar que há muitos gatilhos que me trazem sensações inexplicáveis - ou quase, principalmente na música. O que é a vida sem uma trilha sonora? Se você não é o tipo de pessoa que escuta música 24h por dia, com certeza tem pelo menos uma música favorita, aquela que te traz uma sensação inexplicável, mas você ama. Acontece que são poucos os estilos que tem o poder de causar conforto ou desconforto de forma geral, que te faz mergulhar por sensações esquisitas e te colocam em um estado de hiato racional, se você não sabe do que estou falando, talvez conheça essa música:


Essa trilha é um marco na evolução do estilo Vaporwave, que surgiu na primeira década de 2000. Agora que você relembrou ou teve seu primeiro contato com o estilo, feche os olhos imaginando figuras se formando aleatoriamente como glitches na tela, fita cassete voando, palmeiras verdes quase neon, o céu rosado, talvez uma lamborghini branca em alta velocidade enquanto surge uma estátua grega no horizonte com referências estéticas asiáticas a cobrindo como pintura enquanto ela segura uma janela de software do photoshop com características do Windows 95. Insano…

O vaporwave permeia e se adapta na rede e entre os fãs e produtores como um mutante que apesar de tudo não perde a essência, mas não vamos falar como surgiu ou o que define o vaporwave, há muito conteúdo na internet que pode dar esse background mais sólido. Enfim, sample distorcido, som ambiente, música de elevador, e fragmentos sonoros de elementos dos anos 80/90, essa boa mistura independente do que vier junto, é vaporwave. Mas tão complexo quanto sua definição talvez seja o que ele passa. Quando surgiu, ele era uma manifestação crítica contra o consumismo e certos aspectos do estilo de vida, e por mais estranho que pareça, acabou assumindo uma posição contrária ao que deveria e foi explorado por artistas a ponto de ser tornar um estilo influente e com crescimento exponencial, não há limites do que se pode fazer com esse estilo.

Voltando ao sentimento, talvez esse tenha sido o fator comum para quem o admira, quando o vaporwave se traduz em imagem criando o aesthetic, não é apenas piração que ele reflete, mas também coisas do cotidiano que ao mesmo tempo que se fazem reais, não existem. No reddit há uma comunidade interessante engajada ao vaporwave, e talvez sua descrição seja o suficiente para uma forma pitoresca de representar o que as notas não conseguem descrever:

O capitalismo global está quase lá. No fim do mundo, haverá apenas propaganda líquida e desejo gasoso. Sublimados a partir de nossos corpos, nossos sentidos serão incessantes escadas rolantes que permeiam por ambientes artificiais intocados, cada vez mais que humanos, drogados e drogados, catalisados, consumindo e consumidos por uma economia incansavelmente rica de informações sensoriais, valorizada pelo pixel. O Virtual Plaza dá as boas-vindas e você também.

A Era Moderna trouxe estudos cruciais para o avanço de muitos âmbitos da sociedade, nessa época a nostalgia possuía uma grande relação com a melancolia e chegava a ser considerada um estado clínico, uma vez que não representava apenas uma sensação de saudade do passado que permeia entre a tristeza e o conforto, mas também de um passado irreal, algo que nunca existiu. Com o tempo, a percepção sobre nostalgia se moldou de formas curiosas, sendo percebida até mesmo como uma sensação ou sentimento prazeroso e ao mesmo tempo mórbido, não no sentido depreciativo, mas por trazer um amortecimento aos pensamentos e também estímulos de desconexão com o tempo ou espaço.

Agora, imagine um shopping todo vazio e claro, cintilante com linhas e placas em neon enquanto um leve jazz ambiente se mistura com os arranjos da música do elevador aberto. Ou uma casa com cores pastéis e uma piscinas com a água rosa como o céu que te encara com nuvens parecendo algodão doce e plantas surgindo dos pilares que te rodeiam e lembram construções épicas. Ou um quarto todo lilás com grandes janelas de vidro que deixam entrar um laranja forte do por do sol, e ele transforma parte de tudo que está ali em rosa e adiciona também outros tons ao passar sobre seu videogame, tevê de tubo e revistas de moda. Lugares que nos trazem nostalgia por carregarem elementos dos quais já tivemos e momentos que experienciamos na infância, parece ser isso, mas não é, pois tudo o que ele faz é nos proporcionar uma sensação falsa do que não vivemos, realidade utópicas fragmentadas em pequenos momentos de memórias que não nos pertencem. Um déjà vu, nostalgia, vaporwave.


Por fim, segue alguns links interessantes 🔗

- Ouça + Macintosh Plus (um estilo que não se limita, experimente mais)

Na UFRF (artigo irado em PDF sobre Vaporwave)

- Playlist (para continuar a imersão)

- Vapor no Reddit (aqui tem muito conteúdo irado)

Redescobrindo os Herdeiros de Mour #4 🦁 (havia prometido um capítulo toda semana, mas tive que dar uma pausa com Os Herdeiros de Mour pois haviam pontas soltas. Bom, os nós foram feitos, agora vamos ver onde vai dar. Não conferiu o último capítulo? Então aproveita!)

escreve/apaga 🗒️ (fixo - meu bloco de notas ainda está no ar, é uma ferramenta criada para todos, lá você pode escrever o que quiser, salvar em .txt e por mais que tu feche a janela, o seu conteúdo ainda estará lá guardado quando tu voltar! Bom né.)

Por ora é isso, câmbio e desligo.

Nº2 • ANO 1 • FEV/21
Publicado originalmente em Ago/20
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